O Essencial da Filosofia Grega: Sócrates, Platão e Aristóteles (Apologia de Sócrates)

O Essencial da Filosofia Grega: Sócrates, Platão e Aristóteles (Apologia de Sócrates)

Conjunto: O Essencial da Filosofia Grega: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Box especial contendo três livros: Apologia de Sócrates, A Teoria das Ideias e Poética e Tópicos I, II, III e IV.
Tradução: Alexandre Romero.
Hunter Books Editora

Livro: Apologia de Sócrates

"Porque entre fazer mal a uma pessoa e cometer uma injustiça, não há diferença nenhuma", é a frase de Sócrates em sua conversa com Críton, que nos mostra o forte lado da ética socrática, e que o livro busca mostrar em cada página.
Nessa obra, vemos como Sócrates realiza sua defesa perante as acusações de Anito, Meleto e Licão. O primeiro a se apresentar é Meleto, que acusa Sócrates de corromper a juventude e não acreditar nos deuses da Grécia ou em qualquer divindade. Por meio de apenas um interrogatório realizado a seu acusador, no entanto, Sócrates obtém sua defesa de forma consistente.
Declarado culpado, Sócrates aceita sua pena de morte, sendo obrigado a tomar veneno feito com cicuta e, mesmo tendo uma grande chance de escapar, cumpre a pena em nome da ética e do respeito que tem pela cidade e pelas leis.

Por que o acusavam de tais atitudes?

Porque Sócrates despertava a ira nas pessoas com sua forma de ser e de pensar. Quando foi ao Oráculo, esse disse a ele que ele era o mais sábio homem. Sabendo que os Oráculos gregos não mentiam, ele foi à busca do significado dessa afirmação. Buscou isso em homens considerados sábios: questionou-os a respeito de certos temas que eles deveriam compreender, e eles sempre fugiam do debate e das questões, pois na verdade nada sabiam; mesmo assim se diziam sábios. Sócrates, no entanto, sempre disse que nada sabia, e isso o tornava sábio: saber que nada sabia. Nessa parte, entra a frase "só sei que nada sei", muito dita por ele na busca de afirmar estar ciente de seu desconhecimento de questões de sabedoria. Isso era o que tornava realmente sábio
Também o acusavam disso por calúnia, e porque ele transmitia seu conhecimento aos jovens de forma que estes também se tornavam pensadores como ele. Ou seja, disseminava seu conhecimento, e isso incomodava a muitos.

Como ele se defende do acusamento de corromper a juventude?

Ele questiona Meleto, fazendo-o chegar por suas próprias respostas à conclusão de que o magistrado, e os juízes, e todo o povo da cidade poderia dar uma boa educação aos jovens, e que somente Sócrates era quem corrompia a juventude. Esse argumento se demonstrou sem fundamentos, pois Sócrates argumenta que é impossível apenas um homem desvirtuar a todos os jovens, e todos sabem disso. Também argumenta que, se ele corrompe a juventude, os jovens deveriam também estar acusando-o; no entanto, estavam ali presentes em seu julgamento para defendê-lo.
Como ele se defende do acusamento de não acreditar em deuses?
Sócrates questiona se Meleto diz que ele não acredita nos deuses de Atenas ou em qualquer deus, sendo um ateísta por completo. A resposta de Meleto é clara: "Sócrates não acredita em deuses, absolutamente".
No entanto, Sócrates diz que é óbvio que ele acredita que o Sol e a Lua são deuses, pois Anaxágoras já estudava esses astros, e dizia que eles eram rochas, e isso nunca significou anular a divindade dos mesmos. Ele, estudando Anaxágoras e transmitindo o conhecimento dele, não poderia estar em contradição. Pergunta, então, para Meleto, se parece, por Zeus, que ele esteja mentindo. Meleto responde que não, por Zeus.

O que buscava Sócrates?

Sócrates buscava verdades, e essas verdades estão relacionadas à ética, tema muito discutido no livro principalmente na parte da conversa que teve com seu amigo Críton.

O Capítulo de Críton:

O capítulo de Críton é a conversa que Sócrates teve com seu amigo Críton na prisão. Já estava armado um plano de fuga, e tudo estava certo para ajudar Sócrates a fugir da prisão e escapar da morte. Porém, ninguém havia ainda conversado com ele para saber se desejava mesmo fugir. Quando seu amigo foi à prisão anunciar a chance de escapar, obteve uma resposta muito sábia de Sócrates, que argumentou na seguinte lógica: se ele sempre seguiu e disse que gostou e respeitou as leis e a cidade, então, seria justo se ele as negasse nesse momento apenas em seu proveito? Ele estaria desrespeitando o desejo democrático, mostrando que poderia realmente ser culpado de tudo que foi acusado (pois estaria fugindo), não poderia viver bem em lugar algum e, ao mesmo tempo, estaria negando aquilo que dizia ter amado por tanto tempo. Diante de tamanha reflexão ética, Críton percebe que Sócrates estava correto, e não encontra argumentos contrários para ajudá-lo a fugir. Sócrates cumpre a pena.

Glossário:

O livro contém, por fim, um glossário para ajudar a compreensão do texto, com as definições das seguintes palavras: alma, dialética, diálogo, ideia, maiêutica, metempsicose, reminiscência, e verdade.
Vale ressaltar a importância do conhecimento da palavra "maiêutica", para o estudo de Sócrates: maiêutica é a arte de obter respostas de outrem por meio de perguntas. É saber que o outro possui a resposta dentro dele mesmo e, por meio de questões certas e bem guiadas, fazer com que ele expresse a verdade por si só.

Adam Smith: Tipos de capital e direitos mínimos do trabalhador.

Adam Smith: Tipos de capital e direitos mínimos do trabalhador.

Econompixel

- Tem que ter Estado; pelo menos algum.
- Papo de comunista.
- Mas quem disse isso foi Smith. Mises também!
- Cuma?
- Calma, amigo. Vem cá, que vou te contar uma história.

Senhoras e senhores, eis aqui mais dois conceitos formulados por Adam Smith! Vamos falar sobre os tipos de capital e a garantia pelo autor de "A riqueza das nações" prevista aos direitos mínimos do trabalhador. Esses direitos mínimos têm que ser garantidos tanto pelo capitalista quanto pelo estado. Sim, pelo estado. Recentemente, com a escola austríaca (neoliberalismo), podemos ver um de seus principais representantes, Ludwig von Mises (Os Fundamentos da Política Econômica Liberal), afirmando a necessidade dessa proteção estatal aos direitos mínimos dos cidadãos:

Alguém tem de estar em condições de exigir da pessoa que não respeita a vida, a saúde, a liberdade pessoal ou a propriedade privada de outros, que obedeça às regras da vida em sociedade. É esta a função que a doutrina liberal atribui ao estado: a proteção à propriedade, a liberdade e a paz.

Já sabemos, então, sobre o que dissertaremos aqui: 1º: os tipos de capital em Adam Smith; 2º: os direitos mínimos que devem ser garantidos a trabalhadores e trabalhadoras.

Vamos lá, quais são os tipos de capital?

São três: capital de consumo imediato (ou capital de giro), capital circulante, e capital fixo. Para entender melhor qual a relação de cada um deles com a economia, podemos dizer que o capital está:

• Em uma relação de distribuição quando é capital de reserva para consumo imediato (por exemplo, o dinheiro que a empresa possui para realizar contratações, compras, pagar salários, etc). Todo esse dinheiro utilizado para relações que por vezes não visam diretamente o lucro é capital de reserva para consumo imediato;

• Em uma relação de produção (maquinário, meios de produção*) quando é capital fixo. O capital fixo se mantém com @ don@ e gera retorno, ou seja, diferente dos demais, que são gastos, que passam para outrem em busca de um retorno maior, o capital fixo por sua vez se mantém sob a guarda da mesma pessoa e continua gerando retorno. O capital também pode ser: 

• Expressado enquanto capital que gera a riqueza da empresa, e nesse caso se chama capital circulante. Por exemplo, numa loja de fabricação de roupas de couro, o couro é capital circulante. O dinheiro gasto no couro também é capital circulante, pois visa gerar riqueza para a empresa.

Vale comentar que um dos pressupostos de Smith para que a economia funcione com liberdade e igualdade de concorrência para qualquer ser humano da sociedade libertária é de que um indivíduo que gasta em mercadorias duráveis será mais rico do que um que gasta em bens perecíveis. O mesmo é válido para uma nação. Deve @ leitor(a) atent@, no entanto, se questionar se as classe sociais menos abastadas (por exemplo a pobre e a miserável) do sistema libertário possuem meios para investir em capital fixo.
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* Vale lembrar, para não gerar confusão, que não entra a matéria-prima ou objetos que ajudam na produção nesse exemplo, pois esses são outro tipo de capital expressado no texto.

E quais seriam os direitos mínimos do trabalhador?

Smith diz que @ chefe não pode reduzir os salários d@s trabalhadores e trabalhadoras abaixo de uma determinada taxa, que seria a necessária para que @s mesm@s pudessem sobreviver e ter o direito de dar algo mais às suas famílias. É uma pena que isso não funcione exatamente no contexto de seu sistema. Os salários pagos aos trabalhadores e às trabalhadoras no Brasil, por exemplo, normalmente não possibilitam todos os direitos que a Constituição prevê.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Capítulo II - Dos Direitos Sociais, Art. 6º:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Já na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Capítulo II - Dos Direitos Sociais, Art. 7º, podemos ler sobre os direitos sociais dos indivíduos, sendo eles educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados. No inciso IV, diz-se sobre as obrigações do salário mínimo:

IV - salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada a sua vinculação para qualquer fim
A Constituição de 88, estipulando as necessidades que devem ser abrangidas no salário mínimo ainda não faz com que as empresas normalmente paguem mais que o próprio salário mínimo (atualmente 788 reais bruto) para @s trabalhadoras e trabalhadores que possuem ensino médio, imagine @ leitor(a) como seria o mercado sem a existência da constituição ou estado. Os direitos arduamente conquistados pela sociedade seriam ignorados pel@s chefes nas relações de produção.

Tornando à fala de Smith, percebemos que há uma discrepância entre o que é afirmado pelo mesmo e a realidade do mercado. O lucro está acima de qualquer relação entre @ chefe e @ operári@. Digo operári@ para me referir a qualquer ser humano que trabalha e não possui capital fixo ou pessoa jurídica.

Apesar de tudo o que já foi dito, cabe aqui uma importante (e interessante) informação: se lermos o §1º do Art. 121 da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934, logo perceberemos as seguintes peculiaridades:

 Art 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.
§ 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador:       
 a) proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;        
b) salário mínimo, capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, às necessidades normais do trabalhador; 
Ou seja, além de várias outras proteções ao trabalhador previstas pela Constituição (estabelecimento de idade mínima para trabalhar, férias anuais remuneradas, indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa, assistência à gestante e mais), podemos perceber que os salários são bem cotados; destacados, poderíamos dizer. Ocupam duas alíneas no parágrafo.

A garantia de direitos básicos aos trabalhadores é essencial, e quem pode fazer isso é o Estado. Não é de hoje que se sabe disso.

Não é de hoje que se sabe que o uso do máximo possível de mão de obra (todas as pessoas possíveis) é capaz de fazer um Estado alcançar o estado de pleno emprego, e para usar o máximo possível de mão de obra, é preciso ter trabalhadores saudáveis; não é de interesse da empresa manter os trabalhadores saudáveis, mas é de interesse de todos ter uma economia de pleno emprego. Eis, então, a inegabilidade da necessidade Estado, mesmo que mínimo, garantindo direitos para os trabalhadores.

Émile Durkheim: o fato social

Émile Durkheim: o fato social

Sociologixel

O sociólogo, psicólogo e filósofo Émile Durkheim (1858 - 1917) será nosso assunto nesse post; mais exatamente o seu conceito de "fatos sociais", muito explicado em seu livro "As regras do método sociológico". O cientista, cuja obra foi uma continuação (de certa forma) à formulação de Comte, o positivismo, nos apresenta esse conceito tão importante para o estudo da sociedade.

Que hajam as legítimas críticas ao positivismo, mas que saibamos compreender conceitos importantes de autores de semelhante importância. Durkheim, ao nos dizer sobre os fatos sociais, aponta algo que regula a sociedade e que existe antes mesmo de os indivíduos nascerem. Esse algo é aquilo que, gostemos ou não, queiramos mudar ou não, é factual e temos que lidar com. Como lidar? Aceitando e nos adaptando, ou buscando modificar? Essa resposta não cabe aqui, pois será abordada mais para frente nesse texto. Pretendo que nesses primeiros parágrafos me detenha na constatação dos fatos sociais de Durkheim.

E como funcionam os fatos sociais?

Começarei por um exemplo: Pense em uma religião, ou em algum tipo de discriminação, ou algum senso comum histórico. Esses fatos exemplificados, que de fato existem, já "estavam aí", já "estavam dados" à sociedade bem antes de você, car@ leitor(a), nascer.

Esses fatos nos quais pensamos não mudarão facilmente, pois são históricos. Algumas pessoas lhes consideram bons, outras lhes consideram ruins. O que cabe aos seres humanos de nosso tempo, segundo Durkhéim, é em primeiro lugar adaptar-se aos fatos sociais para poder viver em sociedade. Desde que o ser humano vive em sociedade, ele deve agir conforme ela pede. Antes de criticar um fato social, antes de fazer qualquer coisa, um indivíduo precisa estar dentro da sociedade, e para isso precisa estar dentro dos próprios fatos sociais.

Então o fato social está dado, e é assim que a sociedade se estrutura?

Não necessariamente. Uma das críticas ao Durkheim é a de que ele comete um grave erro ao esquecer que a sociedade se movimenta. A história prova os movimentos da sociedade, e Durkheim considera que a história possa gerar simplesmente avanço; considera que, não importam os fatos, o homem sempre estará em progresso, se estiver em organização social. Isso é o positivismo em seu pensamento.

Sendo assim, se esquece que a história deve sempre ser considerada, e que a sociedade muda. Os fatos sociais não são fatos para sempre e, pelo contrário, muitos desses fatos devem mudar para que a sociedade, só assim, possa ser melhor.

Pode haver a afirmação de que o mais correto é aceitar os fatos sociais e conviver com eles, porém muitos deles fazem mal a determinadas parcelas da sociedade. Nesse caso podemos ver, por exemplo, quando ocorre em determinada, pelas leis, progresso nos direitos trabalhistas ou previdenciários, ou constitucionais. Quando isso ocorre, vai-se contra um fato social que pressiona as pessoas de uma sociedade. Bons exemplos são certas companhias da Suécia, que agora verificam se a jornada de trabalho de 6 horas pode ser melhor que a de 8, pelo fato de o trabalhador poder ser mais produtivo nesse período em que trabalhará. Isso é bom tanto para o trabalhador quanto para a empresa, e é, de certa forma, uma mudança em um fato social.

Platão: A teoria das ideias

Platão: A teoria das ideias

Filosofixel

Tudo não passa de uma mentira! Toda a realidade é uma ilusão, uma cópia de algo muitíssimo mais belo e perfeito.
Curioso pra saber o porquê? Te apresento a teoria platônica.

As almas humanas caíram nos corpos em que estão por acidente; lá, onde a alma antes residia, existem as ideias. Essas ideias são fôrmas.
Veja bem @ leitor(a): no mundo em que vivemos podemos apenas lidar com as aparências físicas das coisas. Esse "plano material" é totalmente imperfeito e apenas é capaz de nos remeter a uma pequena lembrança daquilo que vimos no mundo das ideias, antes de estarmos em nossos corpos. Quando se vê uma xícara, por exemplo, o que é possível ver realmente? "Apenas uma cópia não tão útil, não tão bela, e cheia de falhas, da ideia de xícara", diria Platão. A ideia de xícara é fôrma, pois é a ela que recorremos sempre que vimos uma xícara no mundo físico*.

Okay, mas... se tudo o que podemos ver são lembranças, o que acontece quando vimos algo pela primeira vez?

Nos lembramos!
Sim! Nos lembramos de tudo o que conhecíamos no outro mundo, e essa é uma importante parte da teoria platônica: a reminiscência. É através de lembranças que contemplamos um curtíssimo pedaço do que vimos no mundo das ideias. Platão estabeleceu ainda um mito sobre essas ideias.

O mito da caverna

No mito da caverna, Platão conta que os seres humanos vivem dentro de uma caverna, virados para a parede. O sol entra por trás, por uma fresta, refletindo como sombras na parede da caverna tudo aquilo que está no mundo externo, e tudo o que os seres humanos enxergam, a vida toda, são sombras de uma realidade exterior muito mais bonita, sombras de uma grama verde e viva.

Quando um dos indivíduos consegue sair da caverna e contempla o mundo, volta e se une a seu grupo novamente, com a esperança de contar-lhes sua descoberta, para que todos possam desfrutar daquela realidade. Seus concidadãos, no entanto, acreditam que ele ficou louco, e o matam.

Arthur Schopenhauer: Sobre a Vontade e a Representação.

Arthur Schopenhauer: Sobre a Vontade e a Representação.

Filosofixel


E se tudo o que você sabe sobre a vida estivesse... invertido? É o que Schopenhauer tenta nos mostrar: o bem que não é tão bem assim, e o mal que não é tão mal assim. É que a ordem natural (ou que sempre nos fora apresentada como natural) das coisas não é assim tão natural. Já te explico!
Senhoras e senhores,

Este é um dos artigos que até então mais gostei de escrever. Vale avisar que essa explicação sobre a Vontade, antes de mais nada, é baseada em Schopenhauer (1788 - 1860), filósofo da Polônia. Pretendo escrever mais sobre Schopenhauer, pois há muitos conceitos importantes em seus livros. Esse pequeno artigo pretende apenas dizer um pouco sobre a Vontade e também sobre a felicidade, visto que uma está intimamente relacionada com a outra.
Pois bem, sem mais delongas.

Muitos foram os que tentaram descobrir o sentido da vida, sempre em vão. Novas hipóteses, novas teorias, novas formas lógicas de pensamento sempre fazem questão de contrapor os resultados a que se chega. @s metafísic@s  fizeram o que puderam para responder à pergunta "o que é o ser humano?"; @s epistemólog@s também fizeram o que estava a seu alcance para nos dizer se é possível conhecer, como podemos conhecer, o que é que podemos conhecer. A Filosofia, enfim, por muitas vezes foi dedicada a algo que não se sabe exatamente o que é. E digo isso no sentido de que as respostas que se mostram às perguntas formuladas sempre tentam escapar pelas mãos de quem, esperto, tenta agarrá-las. Digo isso também porque muit@s d@s filósof@s, em suas várias áreas de pesquisa, sempre parecem retornar a um vazio infinito perante o questionamento infinito d@s mesm@s.

Se isso acontece, talvez é porque falte algo; alguma coisa que passa despercebida a muit@s dess@s filósof@s. Schopenhauer, geralmente caracterizado como pessimista, me parece ser um dos poucos capazes de responder a certas perguntas da Filosofia com toda a clareza e realismo possíveis. Seu conceito de mundo, "O Mundo como Vontade e Representação" [Die Welt als Wille und Vorstellung*], que virou até título de seu importante livro, é algo que nos dá um choque na percepção de mundo. Com muita clareza Schopenhauer nos diz que o mundo seja Vontade e Representação, e isso será mostrado nesse artigo.

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* (Vorstellung é mais concedida pelos tradutores de Schopenhauer, em inglês como idea, e poderia até ser tida como ideia em português, mas representação é a melhor palavra; tanto é que nas traduções em português usa-se mesmo representação).

O que é a Vontade?

A Vontade é um querer inútil que vive dentro de nós; querer não se sabe o quê e não se sabe para quê, gerando sempre ou dor ou tédio profundo; resignação. A Vontade nos arrasta sem dizer pra quê ou como; ela apenas nos arrasta sem destino algum, e as pessoas ficam desesperadas procurando um sentido pára a vida, o maravilhoso objetivo de vida, a completude do "buraco existencial", quando, na verdade, as próprias pessoas são somente Vontades. Vontades representadas em corpos, e corpos que se afastam da contemplação e da negação da Vontade porque são Representações e se confundem; as pessoas se confundem sobre a verdade porque enxergam as representações, e não se enxergam enquanto Vontades. O modo como vivemos também dificulta a compreensão da Vontade.

A vida do homem oscila, como uma pêndula, entre a dor e o tédio, tais são na realidade os seus dois últimos elementos.

Por ser incompreensível e nos mover sem rumo, a Vontade torna o mundo um local imenso e cheio de algo já bem conhecido por vós, chamado "dor". A dor é a existência positiva porquanto existe em maior quantidade no mundo, enquanto a felicidade é negativa. Schopenhauer critica claramente as metafísicas que tanto fizeram por considerar a dor e a felicidade em uma inversão. Um fragmento de sua obra "As Dores do Mundo" nos ajuda a compreender como devem ser consideradas a dor e o desagradável:

Tudo o que se ergue em frente da nossa vontade, tudo o que a contraria ou lhe resiste, isto é, tudo que há de desagradável e de doloroso, sentimo-lo ato contínuo e muito nitidamente. Não atentamos na saúde geral do nosso corpo, mas notamos o ponto ligeiro onde o sapato nos molesta; não apreciamos o conjunto próspero dos nossos negócios, e só pensamos numa ninharia insignificante que nos desgosta. — O bem-estar e a felicidade são portanto negativos, só a dor é positiva.
Outros argumentos de Schopenhauer de enorme peso se encontram logo em seguida:

Não conheço nada mais absurdo que a maior parte dos sistemas metafísicos,[grifo nosso] que explicam o mal como uma coisa negativa; só ele, pelo contrário, é positivo, visto que se faz sentir... O bem, a felicidade, a satisfação são negativos, porque não fazem senão suprimir um desejo e terminar um desgosto. Acrescente-se a isto que em geral achamos as alegrias abaixo da nossa expectativa, ao passo que as dores a excedem grandemente. Se quereis num momento esclarecer-vos a este respeito, e saber se o prazer é superior ao desgosto, ou se apenas se compensam, comparai a impressão do animal que devora outro, com a impressão do que é devorado.
A Vontade, então, criadora dos desejos e do querer, funcionaria como a dor natural que se tem que aguentar. É uma agonia da qual não se conhece o motivo. A Vontade tem de ser saciada, claro, e por isso enxergamos a mesma como algo bom, algo que nos faça bem. No entanto, ela é criadora dos impulsos que nos fazem desejar, e com isso nos leva a caminhos gananciosos, pretensiosos, individualistas, egoístas. Nós é que somos a Vontade, contudo, e sendo a vontade, não podemos sair dela, mas podemos e devemos subvertê-la, ultrapassá-la, negá-la. É aí que entra a felicidade: uma raríssima parte da existência que está na negação da Vontade.

É possível a felicidade?

Durante a vida, em alguns momentos, ficamos em um estado que ousamos chamar de "felicidade". Esse estado é passageiro, breve, e quando se acaba, logo retorna a dor. Levando em consideração que mundo seja totalmente feito de dor por conta da Vontade, e que a negação da mesma nos leva ao oposto de tudo aquilo que esta afirma, então, se a Vontade naturalmente nos impõe o egoísmo, o desejo inconsciente da pretensão que nos esmaga a cada dia, a dor, logo sua negação é a expressão do coletivo, do que faz bem. A sociedade, para Schopenhauer, bem como para a maioria d@s pensador@s complexos, se organiza e deve se organizar do coletivo para o individual, e não da forma inversa. Tanto é que, mesmo nos sistemas sociais que julgar conseguir chegar a uma organização do individual ao coletivo, percebe-se a existência da organização do coletivo para o individual. Por exemplo, nos sistemas neoliberais de alguns autores da escola austríaca pode-se perceber a organização natural do mercado frente ao homem. O que é, afinal, esse mercado regido pela mão invisível que controla as regras da distribuição da economia? É uma instituição coletiva, formada pela demanda popular, geral. Também nota-se isso na organização empresarial, que funciona como um corpo coletivo, unido, de concorrência contra outros corpos coletivos. No laissez faire são as empresas que organizam esse sistema, pois são elas que fazem o mercado funcionar, então não pode haver a interferência de um único homem em tudo, por exemplo. Não é a simples "não-interferência" estatal que torna esse sistema individualista. É impossível um sistema social que parta, naturalmente e completamente, do individualismo.

Também a possibilidade de um momento de felicidade nos leva por outros caminhos. Quando uma pessoa se sente feliz, podemos observar isso como uma negação da realidade, uma subversão do natural, sendo isso que faz com que a dor seja positiva e a felicidade negativa: a felicidade é uma subversão da realidade; quando o sujeito consegue chegar a esse ponto, somente aí é realmente feliz (não que isso costume durar muito; pelo contrário). No entanto, percebe-se uma raridade muito maior da felicidade que nos demais sistemas metafísicos, e isso é algo que impressiona à primeira vista. A felicidade é tida como banal, como sentimento que está por aí assim como os demais, mas na filosofia schopenhaueriana ela toma a forma de algo muito maior.

O filósofo chega a colocar a felicidade como algo presente no passado, e também no futuro. No presente, sua forma apenas nos confunde, e podemos enxergá-la depois que passamos por ela, ou enquanto ainda não estamos nela. A felicidade do futuro são os sonhos, os desejos, o "querer"; já a felicidade do passado, bem sabe @ leitor(a), é algo que jamais tornará a ser, e que, em dado momento pode ter sido da melhor forma possível. É lembrança incurável que no presente apenas nos atormenta como impossibilidade de reexistência.

A felicidade, portanto, está sempre no futuro ou no passado, e o presente é como uma pequena nuvem sombria que o vento impele sobre a planície cheia de sol; diante dela, atrás dela, tudo é luminoso, só ela projeta sempre uma sombra.
 A citação acima, também extraída de "As Dores do Mundo", é exatamente o que diz Schopenhauer sobre a felicidade, e seus respectivos tempos de existência.

Finalmente, para @ leitor(a) atent@, explico, já contendo os conceitos de felicidade e de Vontade e Representação em Schopenhauer explicados, o que se quis dizer com "não se sabe exatamente o que é" que a filosofia busca.  E também, na mesma afirmação, explicar-se-á aquilo que se quis dizer com "Muitos foram os que tentaram descobrir o sentido da vida, sempre em vão".

Essas afirmações giram em torno do sentido da vida. Já com as concepções de Schopenhauer, com a Vontade, com a felicidade, e com a representação, podemos analisar que este não se dá. O sentido da vida, ou o objetivo, não aparece aos seres humanos, simplesmente pelo motivo básico: esse sentido tão maravilhoso buscado não existe. Para Schopenhauer, a vida se resume a dor; a tentativa maior de negação dessa dor é a contemplação da Vontade, que pode se dar pelas artes (tema extenso demais para tratar agora), e a negação também da Vontade. Apesar de sua filosofia se estruturar assim, vale lembrar, Schopenhauer em nenhum momento defende o suicídio ou semelhante atitude. Não se pode fugir da Vontade, fugir de si mesmo. Um juízo deste blog, afinal: a felicidade rara e que acontece em poucos momentos deve valer muito mais do que a felicidade banal dos outros sistemas metafísicos, e a de Schopenhauer é suficiente para que a vida seja preferível.

Sigmund Freud: ato falho. O que é? Como funciona?

Sigmund Freud: ato falho. O que é? Como funciona?

Pixelcanálise

- Esqueci as chaves! Perdi o documento importante!
- Xi... Pode ser que esteja esquecendo propositalmente.
- Como assim "propositalmente"?
- Bem.. Essas e outras situações, inclusive a de trocar as palavras semelhantes na hora da pronúncia são conceitos estudados pelo precursor da psicanálise, Dr. Sigmund Freud. Vem comigo que eu te conto melhor!

Dr. Sigmund Freud, no âmbito de fundamentar alguns de seus conceitos, nos apresenta o de ato falho. Podemos defini-lo como ato de expressão de vontade ou indução (geralmente de vontade) do inconsciente do indivíduo que, "sem querer", ou sem a intenção. Algumas vezes, nem mesmo o sujeito que comete o ato falho sabe de seu desejo conscientemente.

Como os atos falhos se representam?


Pelos lapsos! Um lapso pode ser verbal, de escrita, de audição, de esquecimento temporário, ou pode ser um extravio. Se falei algo sem querer cometi um ato falho verbal; se escrevi algo próximo à palavra que quis escrever, cometi um ato falho na forma de escrita. É importante ressaltar que o interesse de Freud ao escrever sobre esses atos falhos não é de tratar sobre a pessoa que talvez estivesse cansada ou nervosa, e por isso acabou cometendo o ato falo. É admitido que isso pode acontecer sim, mas não é o foco de Freud dizer sobre esses casos.

A ideia é mostrar que existem atos falhos que são propositais, causados pelo próprio sujeito. Para isso, Freud usa de um conceito da psicanálise, teoria fundada por ele, que é o inconsciente.

E o que é o inconsciente?

O sujeito tem em seu inconsciente uma gama de informações muito maior do que tem no consciente; um ser humano é consciente e inconsciente, tendo uma terceira divisão na psique (ou seja, na mente, naquilo que se é como um todo em pensamento e Vontade). Porém, não é possível simplesmente enxergar seu próprio inconsciente. São pensamentos inalcançáveis.

Freud conceitua a consciência humana como possuidora de três camadas de pensamentos: ego, id, e superego. As informações inconscientes ficam no id, as informações conscientes (aquilo que se pensa, aquilo que se sabe que está pensando, tudo que está agora na mente do ser humano em questão) ficam no ego, e os ideais ficam no superego. Os ideais são aquilo que a pessoa almeja ser, almeja fazer, aquilo que visa a perfeição e o ideal de ser humano, a vida ideal, etc. [O assunto dos ideais é extenso quando Freud escreve Psicologia das Massas e Análise do Eu, então será abordado em outro artigo].

E qual a relação entre inconsciente e ato falho?


O inconsciente se manifesta nos lapsos, e quando isso acontece estamos diante do ponto que interessa para Freud. Um bom exemplo é quando, em um exemplo do autor, um presidente inicia uma sessão afirmando: "declaro encerrada a sessão!". O presidente, logo se nota, não possuía o desejo nem mesmo de começar a sessão; talvez acreditasse que ela não poderia levar a nada, mas mesmo assim tem que iniciar a mesma, e por isso acaba declarando-a como encerrada na abertura, cometendo um ato falho pelo inconsciente.

Sobre os atos falhos de audição, se João estava em uma conversa com Maria e havia uma furadeira no ambiente, por exemplo, então não podemos culpá-lo por não compreender o que ela disse. Porém, se Maria diz-lhe a palavra "ensejo" e não havia qualquer ruído ou motivo claro para que ele tenha trocado as palavras que ela disse e compreendido outra coisa, e mesmo assim isso João entende "despejo", então talvez não tenha compreendido corretamente o que foi dito por conta dele mesmo. A palavra "despejo" compreendida no lugar de "ensejo" já estaria mais "à mão", pois ele já esperava que ela dissesse "despejo", ou porque qualquer outro motivo relacionado a seu inconsciente.

Isso acontece também no esquecimento temporário. Quando João esquece o nome de Maria por qualquer motivo justamente quando ele precisava, isso quer dizer que ele pode ter esquecido propositalmente, porque não quer realizar a ação para a qual precisa do nome dela.

Já o extravio acontece quando se perde um objeto propositalmente. Quando, por exemplo, determinada pessoa perde as chaves de casa justamente antes de sair para o trabalho, pode ser que tenha perdido-as por conta de um desejo inconsciente de não comparecer ao local de trabalho. Significa o desejo inconsciente de não querer ir trabalhar naquele dia. As chaves podem ser achadas, em um outro momento, no bolso da própria calça que essa pessoa estava usando, e a mesma talvez dirá: "Como sou tont@! As chaves estavam no bolso da calça!".

Outro exemplo de ato falho verbal e ligação com o inconsciente, este usado por Freud, é o do livro "O Mercador de Veneza", no qual a personagem Pórcia diz a seguinte frase a seu pretendente:

Metade de mim é tua, a outra metade, tua -
Minha, quero dizer
Com essa frase, ela deixa claro o desejo (que não podia expressar, mas acaba expressando) de que tal pretendente se case com ela.

O ato falho, por fim, também pode acontecer se houver uma sugestão ou indução, que é realizada justamente para que a pessoa diga aquilo que não deseja dizer.

Como pode ser conceituado o dinheiro?

Como pode ser conceituado o dinheiro?

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Como pode ser conceituado o dinheiro?

O dinheiro é, basicamente, aquilo que serve como referência para a realização das trocas de mercadorias; é a medida que expressa, dentro de sua relação de troca, o trabalho de trabalhadores e trabalhadoras. Bacana, não? Então fique ligad@ e boa leitura!

Mas como se dá essa expressão?


Por exemplo: Maria trabalha, e seu salário é a expressão de seu trabalho: ele expressa (arbitrariamente) o Valor dado ao trabalho dela durante certo período. Ela, então, decide comprar uma câmera fotográfica, por exemplo. Para obter a tão sonhada câmera, terá que dispender de algum bem seu em troca da mesma: terá que trabalhar por ela. Trabalhar é realizar um produto/uma mercadoria, e oferecer esse produto em troca de um Valor determinado pel@ detentor do meio de realização do trabalho, então Maria obteve aquilo pelo qual ela trocou seu produto resultante de seu trabalho: dinheiro. É óbvio, porém, que nem todas as pessoas que desejem comprar uma câmeras fotográficas terão que trabalhar para a empresa produtora desse produto. Por isso, Maria trabalha em sua empresa e recebe dessa empresa um Valor que  representa parte do produto de seu trabalho. Esse Valor é trocado pela câmera, no respectivo Valor da câmera. Quando isso acontece, Maria entregou aquele dinheiro conquistado com a venda de seu produto de trabalho em troca da câmera fotográfica.

Mas é só isso? Simples demais! Nem merecia um tópico só pra isso :/

Não, amiguinh@. O Valor, no entanto, decidido arbitrariamente veio de uma convenção entre ela e @ chefe de sua empresa. Sendo assim, Maria aceitou por qualquer razão receber a quantia de um salário mínimo (atualmente 788 reais), por exemplo, em troca da venda do produto decorrente da prestação de seu trabalho. @ chefe da empresa também concordou com esse Valor, estipulado primeiramente por ele. Como se estipula o Valor, então, de um produto resultante de um trabalho?

Ao olhar para a cadeira na qual você está sentad@ nesse momento, consegue dizer o exato Valor dela? Acredito que não! E por quê não? Porque João pode dizer que, na verdade, a cadeira vale 5 reais a menos, e Rodrigo pode dizer que vale 10 reais a mais; o Valor fora do mercado é arbitrário. O produto não contém em si o Valor, mas passa a contê-lo depois que está em comparação com outro produto. Quando sua cadeira é comparada a um mousepad, por exemplo, sabemos que ela tem um Valor maior. Da mesma forma quando é comparada a um carro, possui valor menor. O Valor não está nela, mas em sua relação de troca!

Dessa forma... Qual é o Valor do dinheiro?


Nenhum. :)

Nenhum mesmo.

Sério, nenhum.

Sim, nenhum. O dinheiro é a medida do Valor, e portanto não possui valor em si. Tanto é que o Banco Central pode criá-lo sempre que necessário para alterar fatores da economia de uma nação. O dinheiro simplesmente expressa o Valor de que tanto falamos. Que sua cadeira vale "bem mais que um mousepad", disso sabemos. Agora, quanto mais? E a resposta: 40 reais a mais. Assim como os metros são tomados como referência para medida de comprimento, e os litros para medida de líquidos, o dinheiro é a medida do Valor das mercadorias.

Adam Smith: quem foi? Qual sua influência hoje?

Adam Smith: quem foi? Qual sua influência hoje?


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Ao lado Adam Smith (1723-1790; liberalismo clássico), precursor (ou 'o pai') do liberalismo.

Sabe a meritocracia, a liberdade de mercado, a suposição de que a única forma de progresso em sociedade é de que o ser humano deva sempre competir entre si por melhores bens, e muitos outros conceitos liberais?
Sim! Adam Smith foi o criador de todos eles; claro que outros economistas próximos à sua época como David Ricardo e J. S. Mill, foram importantes figuras na formulação do sistema capitalista. Smith, no entanto, foi o principal por ter "esquematizado" todo o sistema liberal.

Influência


Smith os demais liberais clássicos influenciaram diversos pensadores de seus tempos, e também recentemente a Escola Austríaca (neoliberais), que adota praticamente todos os seus pressupostos, porém de forma a contextualizá-los no século atual.

Filosofia


A filosofia é muito importante na economia, pois ela determina o motivo pelo qual daremos ou não determinado fim a determinados objetos. Isso ficará claro no exemplo a seguir, explicando a filosofia smithiana sobre o homem: 
Antes, vale ressaltar que o sistema filosófico libertário clássico também é adotado, aliás pelos economistas neoliberais, formando o modelo de filosofia da economia derivado do pensamento smithiano.
Em sua obra A Riqueza das Nações, Adam Smith coloca o primeiro sinal dessa tal filosofia: 

Não é da bondade do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse.
A filosofia liberal do ser humano, em resumo, não aceita como normal a bondade espontânea, e por isso afirma a necessidade de que o indivíduo aja sempre por seus interesses individuais. Sendo assim, analisa-se: alguém realiza um trabalho para outrem no caso de sair lucrando com o fetiche criado sobre o produto que ele produziu (caso A), ou em caso de necessidade de realizar tal trabalho (caso B).

Por exemplo, caso A*: João vende sorvetes na praça, e deve produzir 10 sorvetes em um dia. Se o trabalho dele se expressa com um valor-de-troca maior em relação a outros trabalhos, isto é, se o sorvete que ele produziu, em comparação a um caderno (outra mercadoria, para fins de comparação), assume um valor-de-troca de 10 reais a mais, ou seja, se a quantidade de sorvetes que João produziu possui uma utilidade melhor que a de um único caderno (por poder ser distribuída entre mais pessoas, gerando mais renda ou qualquer outro motivo), então o retorno total de joão deve ser, suponhamos, de 20 reais, já que um caderno custa 10. João, no entanto, deseja receber um valor maior do que o trabalho por ele realizado, que é de 20 reais (ou de 10 reais a mais que um caderno) e cobra por esse trabalho 25 reais para seus clientes. Seus clientes desejam muito o sorvete, pois o dia está muito quente! Eles não se preocuparão em pagar 5 reais acima do valor comum do produto, pois o ambiente lhes deu o fetiche pelo sorvete. Ou seja, fatores externos influenciam em valores-de-troca, e é assim que o empresário obtém seu lucro. Esse lucro serviria como incentivo a ele para continuar produzindo sorvetes, pois quando estivesse frio, as pessoas tenderiam a parar de tomar sorvetes, e João teria que parar de vender seu produto, ou diminuir o preço do mesmo, ou passar a vender outro produto, e o mercado funcionaria dessa forma, organizado pelas influências externas que determinam os Valores dos produtos. Organizado, nas palavras de Smith, por uma "mão invisível".

Caso B: O indivíduo que necessita de alimento, roupa e abrigo sempre fornecerá sua mão-de-obra por aquilo que pode ajudar-lhe; há aqui a necessidade da realização do trabalho. Em Smith, vemos que isso se expande e se dá em quase todas as esferas sociais. O trabalho é parte do homem, e ele deve realizá-lo desde cedo para que possa se aprimorar cada vez mais e ser melhor e mais técnico nele, obtendo seu justo mérito por um esforço concentrado em determinada área de trabalho (e sobrevivendo).

Meritocracia e produção


A meritocracia também é parte do pensamento smithiano. Segundo ele, aquele trabalhador que conseguisse desempenhar seu serviço da melhor forma, ou seja, mais técnico e mais preciso o possível, deveria ter maior privilégio e reconhecimento dentro de sua área. Algo que fica óbvio, nessas considerações, e que é dito pelo próprio autor, é que um trabalhador que já nasce em um contexto que lhe oferece a oportunidade de realizar um trabalho X tem muito mais chance de "se dar bem na vida" realizando esse exato trabalho. Se alguém faz pregos desde que nasceu, por exemplo, mas não é um bom ferreiro em geral, tende a ser melhor que o ferreiro que realiza outros serviços.

Obtendo um olhar crítico sobre a teoria smithiana, é fácil obter-se um trabalho voltado para minúsculas áreas da produção que não permitem a liberdade ao trabalhador para que ele se sinta possuidor de seu próprio serviço que está investido no produto final. Se alguém faz carros, por exemplo, e trabalha em uma determinada linha de produção cujo objeto é a porta do carro, essa pessoa, ao ver o carro completo, não se reconhece naquele produto, ou seja, o produto de seu próprio trabalho não é seu, mas do dono dos meios pelos quais esse trabalhador produziu o carro por completo. Sendo assim, aceita um valor que não tem a ver realmente com seu trabalho e não produz para si.

Outra crítica mais comumente realizada a Smith é a de que as pessoas nascidas em determinadas classes sociais tendem a permanecer em suas classes sociais. Isso porque o cidadão pobre tem serviços de cidadão pobre para exercer, e deve se destacar neles, nunca subindo. Poder-se-ia contrapor-se esse argumento com o que diz que a classe pobre pode subir por exercer outros trabalhos, mas isso já vai contra o princípio da técnica; mesmo assim, se não houvesse tal princípio, a classe pobre não possui acesso a tais trabalhos diferenciados e que podem dar-lhe maior renda. É necessária, então a existência de uma classe miserável/pobre na sociedade liberal smithiana. O pensamento contrário a isso, e que acredita que a classe pobre pode sair da linha de pobreza por mera bondade das classes superiores, é chamado de socialismo utópico que, como o próprio nome já diz, nada tem a ver com o socialismo científico.

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*  Para esse exemplo desprezamos o valor do sorvete e dos ingredientes necessários para sua produção; suponha-se que os materiais já estão dados.

Boas vindas! Café e Pixel está no ar!

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Recebam minhas sinceras boas vindas, leitores e leitoras do Café e Pixel! Sintam-se em casa! Esse blog foi criado com o objetivo de comentar situações e fenômenos de várias áreas do conhecimento de forma simples, bem como falar de livros e assuntos diversos de forma descontraída; arte, por exemplo. :)

Como o nome já diz, a imagem do blog é focada na pixel art. Claro que hora ou outra pode haver a necessidade da inserção de um registro fotográfico ou algo semelhante; a ideia, porém, é de usar a pixel art em todos os momentos possíveis!

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Como essa deve ser uma breve apresentação do blog, fica aqui um sincero "boa leitura!" para os próximos artigos, e até logo! :)